Após longos, longuissimos 32 dias, trouxemos o Afonsinho para casa.
A primeira semana em casa foi terrível, avassaladora, muito sofrida. Questionámo-nos, questionei-me, vezes sem conta, se tinha feito bem em trazê-lo para casa.
Chorava dia e noite, não chorava, gritava. O leite descia pela sonda até ao estômago mas, a força de chorar era tanta, que voltava a subir para a seringa. Estávamos desesperados.
Na terça-feira arrancou a sonda, não queria o biberão, chorava desesperadamente com fome. Entrei em pânico, liguei para o meu marido e pedi-lhe que viesse para casa (estava em Lisboa). Caí em mim e pensei eu sou capaz, tenho que ser capaz e assim foi, pela primeira vez entubei o Afonso e a partir desse momento, entubei as vezes que foram necessárias, muitas, porque ele estava sempre a arrancar a sonda.
Na quarta-feira recebemos as terapeutas que iam acompanhar o Afonso. A terapeuta da fala e a fisioterapeuta, que nos animaram um pouco, dizendo-nos que eram sinais muitos positivos o facto do Afonso se monstrar desconfortável, demonstrava que percebia que estava noutro ambiente: mais calmo, menos quente, mais silencioso.
Na sexta-feira, fomos ter ao hospital com o Pediatra. Os médicos felicitavam-no por ele ter conseguido salvar o Afonso, diziam, que se não tivesse sido ele, tal não teria sido possível. O Dr. L.P. perguntou-me: - "Será que valeu a pena?"
Não lhe respondi, até hoje ainda não lhe respondi mas, hoje, já sei a resposta: Claro que valeu a pena.
Nesse dia, fez-no o pior cenário possivel mas, nós já sabiamos, a grande, a enorme diferença está na maneira de o dizer. Acredito que o Dr. L.P. é um ser humano fantástico, por isso, penso que pode dizer tudo, que os pais vão compreender e ficar agradecidos por poderem contar com ele.
Nessa noite voltamos para casa com um novo leite na bagagem, chegámos a casa da nossa enfermeira favorita e preparámos um biberão. Ela juntou-lhe uma colher de papa e aconteceu o milagre, o Afonso mamou o biberão todo e a partir desse dia, com muitas dificuldades e com muita perserverança, o Afonso nunca mais foi entubado.