Que ele saiba que, invariavelmente, pode contar comigo, nos tempos de celebração e na travessia das longas noites escuras.
É dele também a minha mão. É dele também o meu abraço. É dele também a minha escuta. É dele também o meu olhar amoroso. É dele também os meus melhores sorrisos.
Que se saiba amado muito além do de vez em quando, do por causa de, do se.
Que se sinta amado como é, não interessa com que cara a circunstância esteja. Que se sinta amado simplesmente porque é...

Ana Jácomo
Não me peça para esquecer as cores, meu coração sempre andará com as lembranças felizes.
Tendo na visão do futuro, as flores, o voo dos pássaros, um lindo céu azul com nuvens desenhando belas formas...
E talvez um mar para banhar e salgar as manhãs.
Não me peça para esquecer a imensa beleza da vida.
Apesar de tudo o que já passei, de tantos dissabores, há sempre algo que movimenta a nossa esperança...
Uma criança que nasce para ser amada e ser feliz, uma flor que desabrocha para ser contemplada por quem quiser, um menino que cresce e segue um caminho repleto de luz...

Carol Timm

Afonso

O caminho começou no dia 21 de Dezembro de 2006, o Afonso nasceu em morte aparente, ficando com lesões cerebrais, que lhe causaram paralisia cerebral. Atravessámos longos dias de hospital, dias em que a dor e a preocupação não nos abandonavam mas, desde cedo, percebemos que era um lutador e todos os dias lutamos, com ele, para chegar onde lhe for possível e quem sabe… afinal é um caminho que se faz caminhando...

sábado, 14 de novembro de 2009

Almas perfumadas

Hoje,faz um ano que conheci, pessoalmente, a CLÁUDIA.

A nossa amizade, rapidamente ultrapassou o que primeiro nos uniu, os nossos filhos e as suas patologias.

Hoje, não vivemos uma sem a outra, somos amigas, irmãs, confidentes...

Hoje, somos tudo...
 
«Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende a ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está dançando conosco de rostinho colado. E a gente ri grande que nem menino arteiro.



Costumo dizer que algumas almas são perfumadas, porque acredito que os sentimentos também têm cheiro e tocam todas as coisas com os seus dedos de energia (...).
Excerto do texto "Almas Perfumadas" de Ana Jácomo

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sexta-feira TREZE

O Afonsinho passou bem a noite, acordou bem disposto e comeu muito bem ao pequeno almoço. Hoje foi o papá que o levou à escola, enquanto fiquei com a C.. que continua doente.

Esteve muito bem na escolinha, muito calmo e tranquilo. Almoçou bem e apenas demorou a adormecer, acabando por ir dormir, já perto das 14h para o berçário.

Estas são as noticias, as boas noticias desta sexta-feira...

Logo de manhã, liguei para o Centro de saúde para tentar marcar uma urgência para a C., o que consegui.

Expliquei os sintomas à médica de família, que me disse de imediato que a C., não devia ter faltado à escola só?! porque tinha dores no corpo.

Expliquei-lhe que o Afonsinho, estava com suspeita de gripe A e que a pediatra me tinha dito que estavam a aparecer sintomas como o da C. e que também eram gripe A. Disse-me que sem febre não podia ser gripe A e com má vontade, lá examinou a C., a garganta e a barriga. Disse que tinha uns gânglios na zona da virilha e que podia ser... deu-me imensos termos médicos e mesmo quando lhe pedi para traduzir para português, fiquei na mesma.

Disse-me que não passava justificação para a escola, nem alta para segunda-feira porque não sabia como é que ela estava na segunda e que procurasse a pediatra, já que tinha sido ela a lhe dar o primeiro diagnóstico !!!???

Pedi-lhe se me passava a credencial para a análise que fiz particularmente, para o Afonsinho e respondeu-me que ele era um menino de risco, tinha que ter feito o Tamiflu e que foi tudo mal feito e que devia ter feito a análise no público e a pediatra que passasse a credencial que ela não passava.

Expliquei-lhe que a pediatra é particular e não podia passar credenciais.
Disse-me: "Então ponha na Médis"
Respondi-lhe, que como a Doutora sabe, o Afonso não tem Médis!

A nossa médica de família é excelente e até hoje sempre me ajudou em tudo o que lhe pedi mas, hoje sem dúvida que era sexta-feira treze!!!!

Segui para o hospital e quando expliquei na recepção que vinha do Centro de Saúde mas, que não me tinham passado nenhuma carta a senhora não queria acreditar.

Primeiro foi vista por uma médica. Diagnóstico? Gripe A.

Gripe A, sem febre, perguntei? Respondeu-me que já estão a aparecer os primeiros casos SEM febre.

Depois triagem. As mesmas perguntas, as mesmas respostas. Diagnóstico? Sintomas de Apendicite e pulseira laranja (urgente)

Depois nova observação por um médico, que foi simplesmente exemplar.

As mesmas perguntas, as mesmas respostas.

Cabeça, movimentos e gânglios do pescoço, auscultação, garganta, ouvidos, pulsação cardíaca, palpação na barriga e na virilha, exames físicos: andar, pular, levantar a perna...

Fez uma bateria de exames ao sangue: Hemograma mais que completo, serologias (hepatite A, hepatite C, Citomegalovirus, mononucleose...), urina simples, urina - exame microbiológico e RX.

Todos os exames deram negativos ou dentro dos valores normais, excepto um ligeira alteração no fígado.

Faltam saber ainda alguns marcadores de anti-corpos e o exame da urina microbiológico.

Diagnóstico: Dores musculares virais.

Quer que fique em repouso e na segunda-feira de manhã, tem que voltar para ser observada, por ele.

Ainda há, graças a Deus, grandes profissionais que são extremamente zelosos mesmo que seja sexta-feira treze.

A C. teve dois princípios de desmaio enquanto estava no hospital mas, pensamos que foram devido à fraqueza. Afinal, esteve mais oito horas sem comer...

Voltámos para casa e depois de um belo almoço à hora do lanche começou a recuperar e a ficar mais bem disposta. Continua ainda com dores mas, já tem apetite e continua sem febre.

Ao inicio da noite, para terminar bem a nossa sexta-feira treze, um incêndio num edifício ao lado da nossa casa, fez-nos sair, a mim, à C. e ao Afonsinho de pijama de casa.

Peguei no carro e saímos dali...

Regressámos, cerca de uma hora depois de os bombeiros terem controlado o incêndio e de o F. ter verificado que estava tudo bem.

Não passou de um susto, mais um grandes susto, nesta sexta-feira treze e como já passa da meia noite, já é sábado, dia catorze.

Ufa!!

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Trabalhos caseiros

Continuamos em casa no quentinho, do sofá para a cama, da cama para o sofá...

O Afonsinho já não tem febre e está mais animado.
Hoje já brincou, já conseguimos fazer alguma ginástica, já comeu razoavelmente, só falta saber o resultado da análise.

A C. continua muito queixosa, passou o dia inteiro na cama/sofá, continua com dores de cabeça e no corpo, com transtorno intestinal e sem apetite.

Hoje de manhã, consegui convencê-los a fazer umas pinturas de Natal e apesar do pouco entusiasmo da C. até correu muito bem.

Comecei por dar a escolher o material que queria usar: lápis de cor, lápis de cera ou caneta. O Afonsinho, escolheu de imediato, com o olhar e depois (demorando o seu tempo) a caneta.

Inicialmente não estava a colaborar e não conseguia que ele mantivesse os dedos colocados de forma correcta para o ajudar a pintar mas, depois começou a ganhar o jeito e mal via a caneta, colocava logo os dois dedinhos em posição.


Conseguiu estar muito tempo atento e concentrado no seu desenho, pintou muito bem, colocou a cola, as purpurinas e pela primeira vez escreveu o seu nome.



O desenho ficou LINDO!!!


Os nossos, o meu e da C. também não ficaram nada mal.

Depois do almoço, enquanto a C. dormitava, lá fomos brincando sentados, mantendo-se assim por bons períodos de tempo, no tapete a construir e a destruir torres de copos e a aprender as cores.

Hoje estive a falar com a educadora de e.e, que está muito contente com a aceitação do Afonsinho.

Esteve a dizer-me que ele tenta articular as palavras e que ela o percebe, mesmo quando não consegue emitir o som, que identifica tudo com os olhos e tenta apontar, demorando algum tempo mas, sempre com intenção e que já consegue comunicar com ele. Pediu-me para levar os cartões e alguns livros e ainda se a autorizava a trabalhar com ele no computador portátil.

Fiquei imensamente feliz, com as novidades que me transmitiu.

Continuamos a caminhar, com profissionais empenhados em fazer DIFERENÇA na vida do Afonsinho.

Graças a Deus!

Como dizia a minha querida mãe, nunca de esqueças de agradecer e de dar graças a Deus...

Entretanto, chegou o resultado da análise: NEGATIVO o Afonsinho não tem gripe A

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Gripe A?

Esta noite, foi passada praticamente em branco. O Afonsinho acordou às três da manhã, com quarenta graus de febre, completamente encharcado, parecia que tinha acabado de tomar banho.

Tomámos as medidas usuais, benuron, fazer aerossol, colocar soro no nariz e na boca e fazer arrefecimento com toalhas molhadas. A febre cedeu rapidamente, o que nos deixou mais tranquilos.

De manhã, acordou já com febre e decidi telefonar à Pediatra, porque entretanto lembrei-me que já desde de sábado que está doentinho, apesar da febre só ter começado ontem.

Falei com a pediatra, expliquei-lhe os sintomas, os de sábado também e fomos aconselhados a ir fazer a análise da gripe A.

Até agora no colégio do Afonsinho, ainda não houve nenhum caso, nem nenhuma suspeita de caso mas, na escola da C. são vários os casos de crianças com gripe A. Ela própria está com dores de cabeça, dores de corpo há dois dias e começou ontem com transtornos gastro-intestinais mas, sem febre.

A Pediatra informou-me que neste momento há dois tipos de sintomas da gripe A.

- Sintomas gripais normais, com tosse, dores de garganta, expectoração e febre alta e sintomas gastro-intestinais (vómitos e diarreia), com dores de corpo e febre ligeira.

Indicou-nos o Hospital da Estefânia, como sendo, neste momento, o mais preparado para o diagnóstico da gripe A. Expliquei-lhe que tinha possibilidade de fazer a análise particularmente, uma vez que há uma clínica, onde a minha prima, que é enfermeira, trabalha e onde se obtém os resultados em vinte e quatro horas.

Combinámos então que iria fazer a análise ao Afonsinho, o ia manter em casa, com benuron e brufen, hidratado e amanhã já saberemos o resultado.

O Afonsinho portou-se muito bem a fazer a análise, apesar de no nariz ter sido um bocadinho mais difícil.

Quando voltámos para casa, a febre já estava novamente a subir. Fizemos aerossol com soro, soro no nariz e na boca e depois da febre ceder, tomou o pequeno-almoço, nestum com chocolate e o suplemento, comeu razoavelmente e não fez qualquer birra para comer.

Adormeceu e voltou a dormir cerca de três horas. Acordou fresquinho.

Voltámos a fazer aerossol com soro, soro no nariz e na boca e fui dar-lhe almoço, já perto das quatro horas. Não comeu muito mas, não fez birra.

Passou a tarde sem febre, bem disposto, calminho, mais murcho do que é normal mas, ainda foi brincando no tapete. Fui-lhe dando água o mais possível, que não é, definitivamente, a bebida preferida dele e colocando soro no nariz e na boca.

Vamos agora ver o que a noite nos reserva e amanhã, logo se verá se o diagnóstico se confirma.

Claro, que voltámos a falhar as terapias, hoje hidroterapia, a escolinha e a educadora de e.e.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Febrão!!!

Hoje, passámos uma noite praticamente em branco. O Afonsinho acordou às duas da manhã, hora em que eu ainda não dormia e só voltou a adormecer, quer dizer fui entregá-lo ao pai, às cinco da manhã.
O pai é que tratou dele, pois só me consegui levantar às 9h00. Fez-lhe o almoço e o pequeno-almoço, vestiu-o e levou-o à escola.

Perto das 14h00 recebi uma chamada da escola, o Afonsinho estava com 39,9 de febre. Pedi à S. para o despir, dar-lhe benuron, que tem sempre na malinha e segui de imediato para o colégio.

Quando cheguei, dez minutos depois, já tinha baixado para 39, 1. Pedi uma toalha molhada e estive a arrefecê-lo, trinta minutos depois, já só tinha 38, 3 e viemos para casa.

Já não é a primeira vez que acontece e quando tem estes febrões o Afonsinho fica com os lábios e a boca todos rebentados, chegando mesmo a fazer sangue...

Hoje foi dia de desenvolvimento motor (ginástica).

Estive a falar com a educadora que me disse que ele tinha passado muito bem a manhã, sempre acompanhado pela educadora de e.e., inclusive no recreio, para onde levaram a cadeira hoje mas, que tinha almoçado muito mal, cuspindo mesmo o comer (já se devia estar a sentir doente) e que a adaptação à cadeira, vai devagarinho...

A S., a educadora de e.e., gostou muito dos cartões que levámos. Esta semana o tema é a família nuclear - a mãe.

Hoje o Afonsinho já esteve muito bem com ela e a educadora A., também gosta muito dela, achando-o muito meiga e carinhosa.

Quando chegámos a casa, despi-o e preparei-lhe a sua caminha favorita - o tapete. Adormeceu de imediato, acordou cerca de vinte minutos depois mas, depois de ter falado com ele e lhe dado beijinhos, percebeu que estava na sua casinha e voltou a adormecer e só acordou, completamente gelado, QUATRO horas depois!

Como esteve muito tempo sem se alimentar, optámos por lhe dar um biberão de leite com papa e suplemento, que mal bebeu, vomitou.

Não voltou a ter febre, vamos esperar (como sempre) e ver o que a noite nos trás.
Hoje era dia de fisioterapia e terapia da fala, a que faltámos uma vez mais...

Na própria pele...

Fotografia de Regina Bentes

«Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. É me sentir confortável, mesmo convivendo com tantas perguntas que o tempo não respondeu e com a ausência de qualquer garantia de que ele ainda responda. É me sentir confortável, mesmo entendendo que as respostas que tenho mudarão, como tantas já mudaram, e que também mudarei, como eu tanto já mudei.

Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. É me sentir confortável, mesmo sentindo que cada vez mais eu sei cada vez menos, e não saber, ao contrário do que já acreditei, pode nos fazer vislumbrar uma liberdade incrível, às vezes. Tem saber que é nítida sabedoria, que fortalece, que faz clarear, mas tem saber que é apenas controle disfarçado, artifício do medo, armadilha da dona autosabotagem.

Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. É me sentir confortável, mesmo percebendo que a minha vida não tem lá tanta semelhança com o enredo que eu imaginei para ela na maior parte da jornada e que nem por isso é menos preciosa, a minha imaginação, por mais longos que sejam seus braços, não alcança o verdadeiro propósito que move a minha existência, esse que às vezes intuo, mas, de verdade, não sei. É me sentir confortável, cabendo sem esforço e com a fluidez que eu souber, na única história que me é disponível, que é feita de capítulos inéditos, e que não está concluída: esta que me foi ofertada e que, da forma que sei e não sei, eu vivo.

Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. É me sentir confortável, mesmo acessando, vez ou outra, lugares da memória que eu adoraria inacessíveis, tristezas que não cicatrizaram, padrões que eu ainda não soube transformar, embora continue me empenhando para conseguir. É me sentir confortável, mesmo sentindo uma saudade imensa de uma pátria, aparentemente utópica, onde os seus cidadãos tenham ternura, respeito e bondade, suficientes, para ajudar uns aos outros na tecelagem da paz e no desenho do caminho.

Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. Estarmos na nossa própria pele não é fácil e essa percepção é capaz de nos humanizar o bastante para nos aproximarmos com o coração do entendimento do quanto também não seria fácil estarmos na pele de nenhum outro. Por maiores que sejam as diferenças, as singularidades de enredo, as particularidades de cenário, não nos enganemos: toda gente é bem parecida com toda gente. Toda gente é promessa de florescimento, anseia por amor, costuma ter um medo absurdo e se atrapalhar à beça nessa vida sem ensaio.

Depois de tantas buscas, encontros, desencontros, acho que a minha mais sincera intenção é me sentir confortável, o máximo que eu puder, estando na minha própria pele. É me sentir confortável o suficiente para cada vez mais encarar os desconfortos todos fugindo cada vez menos, sabendo que algumas coisas simplesmente são como são, e que eu não tenho nenhuma espécie de controle com relação ao que acontecerá comigo no tempo do parágrafo seguinte, da frase seguinte, da palavra seguinte. É me sentir confortável o suficiente para caminhar pela vida com um olhar que não envelhece, por mais que eu envelheça, e um coração corajoso, carregado de brotos de amor.»

Ana Jácomo

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Presente

A Ana Jácomo tem um blogue fantástico, "Cheiro de flor quando ri", com textos maravilhosos e fotografias fabulosas. Estes textos, que tantas vezes transcrevi, lêem a minha alma, ajudam a curar as minhas dores, a alegrar o meu coração, a perfumar os meus dias...

Foto de Benjamim Vieira

«Não sei muita coisa sobre mim porque raríssimas coisas que me dizem respeito permanecem inalteradas. Quando acho que sei, eu congelo, e me torno rígida, e resisto à fluição, e atrapalho o fluxo do mar da vida, e quase morro pelo esforço inútil de tentar amarrar as ondas. É quando menos sei que mais evaporo e me transformo em nuvens de ricas possibilidades, que, depois, viram a chuva capaz de fertilizar sementes de mudança nas terras áridas da minha ilusória estagnação.

Quando acho que sei, já mudei, mas ainda não sei. Quando acho que sei, já mudei, mas demoro a perceber. Fico lá, agarrada ao que já não é, chorando ou me encantando a partir de emoções que só fazem sentido para o que, na maioria das vezes, já deixei de ser. É quando menos sei que eu sinto mais. É quando menos sei que eu sei mais. É quando menos sei que eu sou com mais liberdade.

Não sei muita coisa sobre mim e já nem faço tanta questão assim de saber. O que realmente quero é criar espaço para viver a percepção nítida e inédita da beleza disponível de cada instante. Isso, sim, até onde eu pouco sei, é presente. E, quando estou alinhada com o tempo do meu coração, eu sei que é apenas isso, e tudo isso, o que há para ser desembrulhado. Para ser plenamente vivido. Nada mais.»

Ana Jácomo

O dorminhoco

Hoje, voltámos a acordar tarde, perto das 8h e voltámos a chegar tarde à escola.

Em três dias que a educadora de e.e. foi, chegámos atrasados duas!!!

Devido ao atraso e para não interromper as actividades, pouco falei com ela, apenas lhe disse que tinha passado o fim de semana doentinho e que estava com tosse.

Hoje, não consegui ir dar o almoço ao Afonsinho, os assuntos que tinha, obrigatoriamente, de tratar, demoraram, ainda mais, do que já esperava e consumiram muitos nervos, trazendo mais alguma ansiedade.

A vida é assim difícil, espinhosa, nós tiramos um espinho mas, logo aparece outro, que quer ferir mais, espetar ainda mais fundo mas, neste momento estes espinhos já não me doem e quem continua insistentemente a tentar colocá-los, representa, cada vez menos para nós e para os nossos filhos...

«Olhando de perto, não foi nada grave: um pequeno corte no tecido frágil da ilusão, nem chegou a sangrar. Doer, doeu, mas dessa vez só um pouquinho, até porque ultimamente não tenho lá muita paciência pra desperdiçar vida enchendo barriga de dor.»

Excerto do texto "Miragem" de Ana Jácomo

Hoje, fomos buscar o Afonsinho antes do lanche, porque apesar de não irmos à natação, porque continua constipadinho e com tosse, não quisemos que estivesse muito tempo na escolinha.

Hoje não esteve tão bem com a educadora de e.e. mas, achei perfeitamente normal uma vez que estão a começar a conhecer-se, achei menos normal darem-se tão bem na primeira semana.

Curiosamente, não teve tosse, comeu e dormiu bem mas, quando chegámos a casa estava com febre, quase com trinta e nove. Depois de o despir a febre começou, sem medicamente, logo a ceder.

Não lanchou muito mas estava bem disposto e muito comunicativo, nestes últimos três dias tem estado muito mais falador, depois adormeceu e dormiu mais de duas horas.

Está a dormir melhor na escola mas, continua muito cansado e com necessidade de dormir.

O nosso Afonsinho está um grande dorminhoco.

domingo, 8 de novembro de 2009

Em jeito de prece

Foto de Regina Bentes

«Com gentileza, abrando os meus ruídos. Diminuo o volume da tagarelice exaustiva dos pensamentos. Permito que a minha respiração se acalme até ficar macia. Sinto o meu coração com o contentamento de quem reencontra um amigo muito querido. Começo a visualizar um lugar bem bonito. Desenho nele árvores e plantas, utilizando diferentes combinações de cores e tamanhos para suas folhas, flores e frutos. Desenho rios, lagos, cachoeiras, e também montanhas e pedras de vários tons e formatos. Pinto o céu com o azul mais vivo que pulsa na minha memória e solto nele pássaros das mais variadas espécies.

Desenho uma bola dourada que vibra, imensa, dentro desse azul. Tão vívida, que só por desenhá-la o meu corpo estremece, num arrepio de ternura, pela energia que ela emana. Levo para esse lugar os animais dos quais consigo lembrar e os espalho em todos os cantos, livres e felizes. Retiro de uma caixa cheia de delicadezas o pote que contém a mistura dos sons e perfumes que se harmonizam, em frequência, com o que eu já criei. Abro a tampa do pote, jogo essa mistura mágica no ar e acendo tudo com os acordes e o cheiro da paz.

Entro nesse lugar. Caminho sem pressa e paro onde o meu coração me pede. Olho. Ouço. Sinto. Existe nele uma calma muito semelhante àquela que experimentei nos momentos de puro amor que já vivi. Há um sorriso sereno em meu rosto que se espalha em ondas por dentro, até que, de repente, eu me transformo nele: não sei mais onde ele acaba nem onde eu começo. Com os meus pés tocando, firmes, o chão, sinto o toque da brisa que acaricia meus cabelos. O calor do sol que pousa suavemente na minha pele e acende, acorda, colore tudo. Sinto que sou livre, saudável e harmônica, como cada pequeno detalhe que vibra ao meu redor. Sinto-me irmanada com cada um deles. É como se cada detalhe estivesse dentro de mim e eu estivesse dentro de cada um. Não há nada separado de nada. Há uma única e generosa pulsação de vida.

Reparo que há um grupo de pessoas vindo na minha direção. Há uma luz que canta em cada uma delas. Elas me amam e eu amo cada uma. Olho para mim e percebo que aquela luz também me envolve. Estamos ligadas por fios sutis desse lume. Elas chegam ao lugar onde me encontro. Uma delas se aproxima e pára diante de mim, perto, muito perto. Olho atentamente para ela, meus olhos conseguem tocá-la sem nenhuma pressa. Respiramos o mesmo sentimento. Sinto o perfume singular que ela tem. Pronuncio o seu nome com toda ternura de que sou capaz. Agradeço à vida pelo nosso (re)encontro. Agradeço pelo o que ela me ensina sobre o amor. Declaro a minha intenção de continuar a compartilhar com ela essa jornada evolutiva. Depois, trocamos um abraço caloroso. É a vida que vibra em mim que abraça, nesse momento, a vida que vibra nela. Sinto esse abraço e deixo que ele fale no nosso silêncio. Afasto-me gentilmente, abençoando essa vida da forma que sei. Ela também abençoa a minha vida da forma que sabe e se afasta. Olho, então, para a pessoa que está atrás dela, à espera de um novo abraço. Repito o movimento. E também com a outra. E com a outra. E com a outra.

Depois de abraçar cada uma, espontaneamente começamos a brincar de roda. Uma maneira lúdica de lembrar que somos feitos, sobretudo, para a alegria. De mãos dadas, começamos a girar leve e gostoso nessa roda de amor. Parece até que flutuamos e sabe de uma coisa? De alguma forma, flutuamos mesmo. Essa alegria que compartilhamos é tão pura que desejamos estendê-la a outros seres. Ao mundo. Devolvê-la à vida. Envolvidos nessa atmosfera, experimentamos com mais facilidade a certeza de que dar e receber é a mesma coisa. Que é impossível que se consiga separar um movimento do outro quando eles passam pela festa que o coração celebra.

Sem que ninguém diga nada, paramos de girar e concentramos toda a atenção nessa luz que começa em cada um. Ela aumenta progressivamente, tamanho e intensidade. Centrados no coração, visualizamos esse perfume amoroso tocando todos os amados que já trocaram de frasco e não estão visíveis nessa roda. Tocando todos aqueles que ainda não vivem a graça de experimentar o amor. Tocando todos os que estão doentes, seja lá onde a doença os machuque. Tocando os que se sentem assustados, amargurados, solitários, descrentes e cansados, e que têm disfarçado a sua dor através dos vícios, das agressões, da apatia, de uma vida sem compromisso genuíno. Tocando os que sentem fome de pão ou de clareza. Os que sentem sede de água ou de vida. Os que sentem frio de agasalho ou de afeto. Os que estão envolvidos nos conflitos que matam tanta gente, seja lá por qual desculpa da ignorância.

Enviamos também esse perfume para todos aqueles que, de alguma maneira, acreditaram que foram feridos por nós, com ou sem razão. Para todos aqueles que acreditamos que nos feriram também. Para cada vida que está presa na culpa ou na falta de perdão. Para todos aqueles que, de variadas maneiras, ajudam a manter acesa a luz na Terra, nesse nosso tempo tão escuro. Enviamos esse perfume para todos os lugares que o seu toque alcança, até lá nos mais distantes e inimagináveis.

Desfeita a roda, nós nos despedimos. Cada um, abençoado e nutrido por esse instante de amor compartilhado, retorna para o seu próprio caminho. Antes de ir embora, olho mais uma vez para esse lugar que criei, para onde posso retornar sempre que quiser. Para descansar dos desafios cotidianos. Para me perfumar com essa paz. Para me banhar com essa luz. Podemos escolher o que queremos criar. Onde demoramos mais os nossos olhos. Com o que alimentamos o nosso coração. O que propagamos sutilmente no mundo.

Ver com amor também é um jeito de prece.»

Espirito natalicio...

O espirito natalicio chegou à nossa casa.

A nossa entrada já está decorada e deseja a todos os que passam e que entram na nossa casa "Boas Festas".

A árvore de Natal já ilumina a nossa sala e a nossa casa.

Esperamos que chegue também à nossa vida e nos ilumine o caminho...

Constipadinho...

Ontem, o Afonsinho não foi à piscina, porque passou o dia muito constipadinho. Não tinha febre mas, cada vez que tossia gemia e passou o dia a queixar-se.

O estado de saúde foi-se agravando e à noite estava com tantas dores que chorava, a sério, com lágrimas.

Tentámos de tudo, benuron, brufen, massagem na barriga, clister para limpar o intestino, soro, aerosol com soro, bucagel...

Já estávamos a entrar em desespero, quando me lembrei de uma "mezinha" que a minha mãe fazia quando eu era miúda, um pacho de álcool no peito. E foi assim, com um pacho de algodão com álcool no peito, que conseguimos que acalmasse e adormecesse.

Foi um dia desesperante!!!

O positivo da situação foi que não deixou de comer mas, acabou por beber bastante leite, cereais, papas e fruta, substituindo as refeições principais e consequentemente mais sólidas.

A noite foi tranquila e hoje acordou bem disposto e já está há um bom bocado a brincar no tapete, vamos agora ver como corre o dia.

O que é paralisia cerebral?

"A criança com Paralisia Cerebral tem uma perturbação do controlo da postura e movimento, como consequência de uma lesão cerebral que atinge o cérebro em período de desenvolvimento.
(...)A criança com Paralisia Cerebral pode ter inteligência normal ou até acima do normal."

Retirado de "A criança com paralisia cerebral" - Guia para os pais e profissionais da saúde e educação APPC
Hoje caminho, o céu está azul, o sol brilha esplendoroso, oiço o chilrear dos passarinhos e o silêncio...
O silêncio no meu coração,
Os momentos, os meus momentos felizes...
Oiço o riso das crianças, cheiro a maresia que vem do mar, caminho descalça pela areia, continuo a sonhar.
Sonho, que o teu limite é o sonho e que o teu caminho, tem tantos obstáculos, uns já vencidos e outros, tantos outros, por vencer...
Dificil, é este nosso caminho mas, sei que embora seja feito devagar, muito devagar, sei que chegaremos ao destino deste nosso caminho que se faz caminhando...

Dina

Sou uma caminhante na estrada do aprendizado do amor. Às vezes, exausta, eu paro um pouquinho. Cuido das dores. Retomo o fôlego. Depois, levanto e seduzida, enternecida pelo chamado, cheia de fé, eu prossigo. Um passo e mais outro e mais outro e mais outro, incontáveis. Sei de cor que não é fácil, mas sei também que é maravilhoso olhar para o caminho percorrido e perceber o quanto a gente já avançou, no nosso ritmo, do nossos jeito, um passo de cada vez.

Ana Jácomo
E Deus continua susurrando: Não desista, o melhor ainda está por vir...
Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.

Dalai Lama

O amor é um caminho que clareia, progressivamente, à medida em que o percorremos, como se cada passo nosso fizesse descortinar um pouco mais a sua luz.
A jornada é feita de dádivas e alegrias, mas também de imprevistos, embaraços, inabilidades, lições de toda espécie.
De vez em quando, tropeçamos nos trechos mais acidentados. Depois, levantamos e prosseguimos: o chamado do amor é irrecusável para a alma. Desistir dele, para ela, é como desistir de respirar.


Ana Jácomo
Quando eu deixei de olhar tão ansiosamente para o que me faltava e passei a olhar com gentileza para o que eu tinha, descobri que, de verdade, há muito mais a agradecer do que a pedir. Tanto, que às vezes, quando lembro, eu me comovo. Pelo que há, mas também por conseguir ver.

Ana Jácomo
Nem sempre querer é poder, porque às vezes a gente quer, mas ainda não pode. Ainda não consegue realizar.
Não faz mal: a vontade que é legítima, alinhada com a alma, caminha conosco, paciente, fresca, bondosa, até que a gente possa. Às vezes, isso parece muito longe, mas é só o tempo do cultivo. As flores, como algumas vontades, também desabrocham somente quando conseguem


Ana Jácomo
Depois de cada momento de fraqueza, meu coração prepara, em silêncio, uma nova fornada de coragem.
Às vezes cansa, sim, mas combinamos não desistir da força que verdadeiramente nos move.

Ana Jácomo

Todos os direitos reservados