Que ele saiba que, invariavelmente, pode contar comigo, nos tempos de celebração e na travessia das longas noites escuras.
É dele também a minha mão. É dele também o meu abraço. É dele também a minha escuta. É dele também o meu olhar amoroso. É dele também os meus melhores sorrisos.
Que se saiba amado muito além do de vez em quando, do por causa de, do se.
Que se sinta amado como é, não interessa com que cara a circunstância esteja. Que se sinta amado simplesmente porque é...

Ana Jácomo
Não me peça para esquecer as cores, meu coração sempre andará com as lembranças felizes.
Tendo na visão do futuro, as flores, o voo dos pássaros, um lindo céu azul com nuvens desenhando belas formas...
E talvez um mar para banhar e salgar as manhãs.
Não me peça para esquecer a imensa beleza da vida.
Apesar de tudo o que já passei, de tantos dissabores, há sempre algo que movimenta a nossa esperança...
Uma criança que nasce para ser amada e ser feliz, uma flor que desabrocha para ser contemplada por quem quiser, um menino que cresce e segue um caminho repleto de luz...

Carol Timm

Afonso

O caminho começou no dia 21 de Dezembro de 2006, o Afonso nasceu em morte aparente, ficando com lesões cerebrais, que lhe causaram paralisia cerebral. Atravessámos longos dias de hospital, dias em que a dor e a preocupação não nos abandonavam mas, desde cedo, percebemos que era um lutador e todos os dias lutamos, com ele, para chegar onde lhe for possível e quem sabe… afinal é um caminho que se faz caminhando...

domingo, 8 de novembro de 2009

Em jeito de prece

Foto de Regina Bentes

«Com gentileza, abrando os meus ruídos. Diminuo o volume da tagarelice exaustiva dos pensamentos. Permito que a minha respiração se acalme até ficar macia. Sinto o meu coração com o contentamento de quem reencontra um amigo muito querido. Começo a visualizar um lugar bem bonito. Desenho nele árvores e plantas, utilizando diferentes combinações de cores e tamanhos para suas folhas, flores e frutos. Desenho rios, lagos, cachoeiras, e também montanhas e pedras de vários tons e formatos. Pinto o céu com o azul mais vivo que pulsa na minha memória e solto nele pássaros das mais variadas espécies.

Desenho uma bola dourada que vibra, imensa, dentro desse azul. Tão vívida, que só por desenhá-la o meu corpo estremece, num arrepio de ternura, pela energia que ela emana. Levo para esse lugar os animais dos quais consigo lembrar e os espalho em todos os cantos, livres e felizes. Retiro de uma caixa cheia de delicadezas o pote que contém a mistura dos sons e perfumes que se harmonizam, em frequência, com o que eu já criei. Abro a tampa do pote, jogo essa mistura mágica no ar e acendo tudo com os acordes e o cheiro da paz.

Entro nesse lugar. Caminho sem pressa e paro onde o meu coração me pede. Olho. Ouço. Sinto. Existe nele uma calma muito semelhante àquela que experimentei nos momentos de puro amor que já vivi. Há um sorriso sereno em meu rosto que se espalha em ondas por dentro, até que, de repente, eu me transformo nele: não sei mais onde ele acaba nem onde eu começo. Com os meus pés tocando, firmes, o chão, sinto o toque da brisa que acaricia meus cabelos. O calor do sol que pousa suavemente na minha pele e acende, acorda, colore tudo. Sinto que sou livre, saudável e harmônica, como cada pequeno detalhe que vibra ao meu redor. Sinto-me irmanada com cada um deles. É como se cada detalhe estivesse dentro de mim e eu estivesse dentro de cada um. Não há nada separado de nada. Há uma única e generosa pulsação de vida.

Reparo que há um grupo de pessoas vindo na minha direção. Há uma luz que canta em cada uma delas. Elas me amam e eu amo cada uma. Olho para mim e percebo que aquela luz também me envolve. Estamos ligadas por fios sutis desse lume. Elas chegam ao lugar onde me encontro. Uma delas se aproxima e pára diante de mim, perto, muito perto. Olho atentamente para ela, meus olhos conseguem tocá-la sem nenhuma pressa. Respiramos o mesmo sentimento. Sinto o perfume singular que ela tem. Pronuncio o seu nome com toda ternura de que sou capaz. Agradeço à vida pelo nosso (re)encontro. Agradeço pelo o que ela me ensina sobre o amor. Declaro a minha intenção de continuar a compartilhar com ela essa jornada evolutiva. Depois, trocamos um abraço caloroso. É a vida que vibra em mim que abraça, nesse momento, a vida que vibra nela. Sinto esse abraço e deixo que ele fale no nosso silêncio. Afasto-me gentilmente, abençoando essa vida da forma que sei. Ela também abençoa a minha vida da forma que sabe e se afasta. Olho, então, para a pessoa que está atrás dela, à espera de um novo abraço. Repito o movimento. E também com a outra. E com a outra. E com a outra.

Depois de abraçar cada uma, espontaneamente começamos a brincar de roda. Uma maneira lúdica de lembrar que somos feitos, sobretudo, para a alegria. De mãos dadas, começamos a girar leve e gostoso nessa roda de amor. Parece até que flutuamos e sabe de uma coisa? De alguma forma, flutuamos mesmo. Essa alegria que compartilhamos é tão pura que desejamos estendê-la a outros seres. Ao mundo. Devolvê-la à vida. Envolvidos nessa atmosfera, experimentamos com mais facilidade a certeza de que dar e receber é a mesma coisa. Que é impossível que se consiga separar um movimento do outro quando eles passam pela festa que o coração celebra.

Sem que ninguém diga nada, paramos de girar e concentramos toda a atenção nessa luz que começa em cada um. Ela aumenta progressivamente, tamanho e intensidade. Centrados no coração, visualizamos esse perfume amoroso tocando todos os amados que já trocaram de frasco e não estão visíveis nessa roda. Tocando todos aqueles que ainda não vivem a graça de experimentar o amor. Tocando todos os que estão doentes, seja lá onde a doença os machuque. Tocando os que se sentem assustados, amargurados, solitários, descrentes e cansados, e que têm disfarçado a sua dor através dos vícios, das agressões, da apatia, de uma vida sem compromisso genuíno. Tocando os que sentem fome de pão ou de clareza. Os que sentem sede de água ou de vida. Os que sentem frio de agasalho ou de afeto. Os que estão envolvidos nos conflitos que matam tanta gente, seja lá por qual desculpa da ignorância.

Enviamos também esse perfume para todos aqueles que, de alguma maneira, acreditaram que foram feridos por nós, com ou sem razão. Para todos aqueles que acreditamos que nos feriram também. Para cada vida que está presa na culpa ou na falta de perdão. Para todos aqueles que, de variadas maneiras, ajudam a manter acesa a luz na Terra, nesse nosso tempo tão escuro. Enviamos esse perfume para todos os lugares que o seu toque alcança, até lá nos mais distantes e inimagináveis.

Desfeita a roda, nós nos despedimos. Cada um, abençoado e nutrido por esse instante de amor compartilhado, retorna para o seu próprio caminho. Antes de ir embora, olho mais uma vez para esse lugar que criei, para onde posso retornar sempre que quiser. Para descansar dos desafios cotidianos. Para me perfumar com essa paz. Para me banhar com essa luz. Podemos escolher o que queremos criar. Onde demoramos mais os nossos olhos. Com o que alimentamos o nosso coração. O que propagamos sutilmente no mundo.

Ver com amor também é um jeito de prece.»

Sem comentários:

O que é paralisia cerebral?

"A criança com Paralisia Cerebral tem uma perturbação do controlo da postura e movimento, como consequência de uma lesão cerebral que atinge o cérebro em período de desenvolvimento.
(...)A criança com Paralisia Cerebral pode ter inteligência normal ou até acima do normal."

Retirado de "A criança com paralisia cerebral" - Guia para os pais e profissionais da saúde e educação APPC
Hoje caminho, o céu está azul, o sol brilha esplendoroso, oiço o chilrear dos passarinhos e o silêncio...
O silêncio no meu coração,
Os momentos, os meus momentos felizes...
Oiço o riso das crianças, cheiro a maresia que vem do mar, caminho descalça pela areia, continuo a sonhar.
Sonho, que o teu limite é o sonho e que o teu caminho, tem tantos obstáculos, uns já vencidos e outros, tantos outros, por vencer...
Dificil, é este nosso caminho mas, sei que embora seja feito devagar, muito devagar, sei que chegaremos ao destino deste nosso caminho que se faz caminhando...

Dina

Sou uma caminhante na estrada do aprendizado do amor. Às vezes, exausta, eu paro um pouquinho. Cuido das dores. Retomo o fôlego. Depois, levanto e seduzida, enternecida pelo chamado, cheia de fé, eu prossigo. Um passo e mais outro e mais outro e mais outro, incontáveis. Sei de cor que não é fácil, mas sei também que é maravilhoso olhar para o caminho percorrido e perceber o quanto a gente já avançou, no nosso ritmo, do nossos jeito, um passo de cada vez.

Ana Jácomo
E Deus continua susurrando: Não desista, o melhor ainda está por vir...
Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.

Dalai Lama

O amor é um caminho que clareia, progressivamente, à medida em que o percorremos, como se cada passo nosso fizesse descortinar um pouco mais a sua luz.
A jornada é feita de dádivas e alegrias, mas também de imprevistos, embaraços, inabilidades, lições de toda espécie.
De vez em quando, tropeçamos nos trechos mais acidentados. Depois, levantamos e prosseguimos: o chamado do amor é irrecusável para a alma. Desistir dele, para ela, é como desistir de respirar.


Ana Jácomo
Quando eu deixei de olhar tão ansiosamente para o que me faltava e passei a olhar com gentileza para o que eu tinha, descobri que, de verdade, há muito mais a agradecer do que a pedir. Tanto, que às vezes, quando lembro, eu me comovo. Pelo que há, mas também por conseguir ver.

Ana Jácomo
Nem sempre querer é poder, porque às vezes a gente quer, mas ainda não pode. Ainda não consegue realizar.
Não faz mal: a vontade que é legítima, alinhada com a alma, caminha conosco, paciente, fresca, bondosa, até que a gente possa. Às vezes, isso parece muito longe, mas é só o tempo do cultivo. As flores, como algumas vontades, também desabrocham somente quando conseguem


Ana Jácomo
Depois de cada momento de fraqueza, meu coração prepara, em silêncio, uma nova fornada de coragem.
Às vezes cansa, sim, mas combinamos não desistir da força que verdadeiramente nos move.

Ana Jácomo

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