Um dia simplesmente para esquecer e arrancar do calendário...
Mais um belo texto de Ana Jácomo, retirado do blogue "Cheiro de flor quando ri".

Fotografia de Paulo Henrique Rodriguez
«Precisei recuar alguns passos do lugar onde as ondas emocionais quebram para me perguntar por que, afinal, eu estava tão irritada. O dia mal acordara e a minha paciência já havia anoitecido, não foi difícil perceber na interação com os primeiros movimentos da manhã. Se eu continuasse exatamente ali, exposta à arrebentação, à mercê dos caprichos daquele mar, era bastante provável que as águas me puxassem cada vez mais para dentro daquela emoção. Não seria bacana, eu sabia.
O mar muitas vezes me puxa, e há de me puxar incontáveis vezes sem que eu possa recuar, mas naquele instante consegui perceber a estranheza da emoção no contexto, e recuei. Na areia, menos misturada com as ondas, pude sentir a pergunta e compartilhá-la com o meu coração. Pude tocá-lo. Pude, finalmente, permitir que falasse. Rememoramos, lembrança por lembrança, os acontecimentos mais próximos dali até que, de repente, num determinado ponto, ele marejou, e me contou que eu não estava exatamente irritada, eu estava mesmo era triste.
A irritação era a tentativa grosseira de esconder uma tristeza pela qual eu não estava aceitando chorar, talvez por medo. A irritação era a casca espessa que cobria uma tristeza engasgada. A irritação era um disfarce fajuto. Era um desses jeitos transitórios de defesa. Era a manifestação equivocada de uma dor que eu tentei represar. Bobagem isso de contermos, às vezes, o nosso choro. Chorar lava. Cria espaço. Ajuda a desapertar. O embaraço começa é quando não assumimos o sentimento da vez, seja lá qual for.
Algumas tristezas não são tão isoladas como, para facilitar o processo, costumamos considerar. Algumas tristezas doem num volume tão alto que acordam as tristezas vizinhas de porta. Algumas, inclusive, são capazes de acordar andares inteiros da memória, um alvoroço só. Tentamos fugir disso, de várias maneiras, sempre que dá, mas não dá para fugir pra sempre. A fuga é só adiamento quando a dor continua à espreita, inventando disfarces, crescendo em silêncio.
Chorei. Pela tal tristeza e pela vizinhança acordada. A irritação? Que irritação? »
3 comentários:
Coragem mulher-mãe, melhores dias virão. Deixa passar esta tempestade, o Afonso voltará como era, sorridente e energético :)
Parabéns pela reportagem e na aquisição da cadeira! Sei que a fase de adaptação nunca é fácil, dá tempo ao tempo e um dia ele vai estar ali sentadinho correctamente a sorrir.
Beijos de coração, sei que o meu silêncio tem sido muito, pois estou na luta em busca do Bilateral em passinhos lentos neste Portugal tão inexperiente, imaturo e indiferente. Resta-nos a nós, como a Dina fez, lutar incansavelmente por melhores acessos e condições... muito em breve mandarei um email para si.
Feliz domingo.
Sun Melody
Dina,
espero que o fim de semana tenha sido bom para recuperar energias e que a cor deixe de ser o cinzento para ser azul!
Beijinhos com saudades
Rita
Que os dias cinzentos passem depressa, coragem que vêm de certeza dias de "sol" a seguir.
beijinhos
Cristina
http://blogs.clubedospais.pt/ccsantos
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