Que ele saiba que, invariavelmente, pode contar comigo, nos tempos de celebração e na travessia das longas noites escuras.
É dele também a minha mão. É dele também o meu abraço. É dele também a minha escuta. É dele também o meu olhar amoroso. É dele também os meus melhores sorrisos.
Que se saiba amado muito além do de vez em quando, do por causa de, do se.
Que se sinta amado como é, não interessa com que cara a circunstância esteja. Que se sinta amado simplesmente porque é...

Ana Jácomo
Não me peça para esquecer as cores, meu coração sempre andará com as lembranças felizes.
Tendo na visão do futuro, as flores, o voo dos pássaros, um lindo céu azul com nuvens desenhando belas formas...
E talvez um mar para banhar e salgar as manhãs.
Não me peça para esquecer a imensa beleza da vida.
Apesar de tudo o que já passei, de tantos dissabores, há sempre algo que movimenta a nossa esperança...
Uma criança que nasce para ser amada e ser feliz, uma flor que desabrocha para ser contemplada por quem quiser, um menino que cresce e segue um caminho repleto de luz...

Carol Timm

Afonso

O caminho começou no dia 21 de Dezembro de 2006, o Afonso nasceu em morte aparente, ficando com lesões cerebrais, que lhe causaram paralisia cerebral. Atravessámos longos dias de hospital, dias em que a dor e a preocupação não nos abandonavam mas, desde cedo, percebemos que era um lutador e todos os dias lutamos, com ele, para chegar onde lhe for possível e quem sabe… afinal é um caminho que se faz caminhando...

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

As nossas rotinas diárias

Hoje, o Afonsinho acordou muito bem disposto e iniciámos a nossa rotina diária.

Acordar, dizer bom dia, beijinhos, beijinhos e mais beijinhos, depois é hora da ginástica, primeiro os braços. Alongamentos, o gigante, o avião, alongar as costas, os dorsais, rodar os braços para cima para baixo, para trás e para a frente, rodar as articulações, os ombros, os cotovelos, os pulsos, os dedos, seguimos para as pernas alongar, rodar as ancas, fazer abdução, alongar as pernas, os pés, rodar os joelhos, os tornozelos, os pés, os dedos, esticar todos os tendões, um de cada vez e depois todos em conjunto.

Levantar.

Deitá-lo no tapete em cima do rim onde fica a brincar enquanto lhe preparo o pequeno almoço e o almoço.

Depois tomar o pequeno almoço enquanto vimos desenhos animados, hoje estivemos a ver a Ilha das Cores na RTP2 e conseguimos ouvir a canção do abecedário que o Afonsinho tanto gosta e a canção do "Burro do prado".

Depois casa de banho. Abrir a água, repetindo o maior numero de vezes possível a palavra água,
lavar os pés, repetindo e tornando a repetir, depois lavar as mãos, a cara, os olhos, o nariz, as orelhas... sempre repetindo de forma ritmada e engraçada, provocando-lhe risos, olhinhos e carinha de felicidade e espero eu, aquisição de conhecimentos e competências.

Chega então a hora do senhor tigre, a escova de dentes, que fala e brinca com ele, enquanto lhe diz bom dia e lhe explica que vamos lavar os dentinhos.

Sentar na sanita e perguntar se quer fazer xixi, ainda não consegui que fizesse nenhuma vez mas, todos os dias vamos tentando, devagarinho e sem pressas.

Entretanto seguimos para o quarto para vestir. Mudamos a fralda, voltamos a falar do xixi ,explicando que se tem xixi, perguntado se quer fazer fazer...

Vestir a camisola, falando e explicando como se veste, pedido ajuda com o braço, com a mão, vestir as calças, repetindo as perguntas, calçar as meias nos pés, os sapatos e depois vamos para a sala.
Ligamos o DVD, neste momento o "Panda vai à escola" é o eleito, colocar no standing, ali ficamos os dois a ver o DVD e a cantar, ao primeiro sinal de impaciência, tiro-o e depois de lhe colocar as talas volto a colocá-lo no tapete onde fica a brincar enquanto me vou despachar.

Estamos quase prontos para sair de casa, a cadeira e as mochilas já estão no carro, o pai já as levou, só falta pentear, o Afonsinho já ajuda segurando na escova e passando-a pelo cabelo, esperamos pelo momento certo, para que toque na Rádio Comercial uma canção para dançarmos, pôr creme na cara, colocar soro no nariz e na boca e já mesmo à saída de casa, tomar o Diplexil, o medicamento anti-epiléptico que o Afonsinho continua a tomar.

Na escada enquanto esperamos pelo elevador ainda cantamos e vamos a dançar pelo caminho.

Abrimos o carro, o Afonsinho senta-se na cadeirinha, colocar o cinto (o ano passado e ainda mais recentemente cheguei a demorar cerca de dez minutos só para sentá-lo e apertar o cinto) e seguimos para a escolinha, uma vez mais a ouvir a musica do Panda, normalmente só as suas preferidas.

Já conseguimos chegar à escola, na maioria dos dias, sem chorar.

Tocamos à campainha, medem a febre ao Afonsinho à entrada, recebemos bons dias alegres e sinceros e chegamos à sala, beijinhos e despedimos-nos...

Eu, volto ao carro e vou buscar a cadeira, primeiro monto o assento no chassis de rua, depois entro pela rampa que dá acesso ao refeitório, desmonto o assento, pego na chave de parafusos e retiro o apoio de pés e vou para a sala, pelo caminho entrego o almocinho na copa, penduro a mochila, volto a montar o apoio de pés, volto a colocar o assento e venho-me embora.

Será que alguém acreditaria se eu dissesse que esta primeira rotina da manhã demora cerca de DUAS HORAS E MEIA?

1 comentário:

PAULA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.

O que é paralisia cerebral?

"A criança com Paralisia Cerebral tem uma perturbação do controlo da postura e movimento, como consequência de uma lesão cerebral que atinge o cérebro em período de desenvolvimento.
(...)A criança com Paralisia Cerebral pode ter inteligência normal ou até acima do normal."

Retirado de "A criança com paralisia cerebral" - Guia para os pais e profissionais da saúde e educação APPC
Hoje caminho, o céu está azul, o sol brilha esplendoroso, oiço o chilrear dos passarinhos e o silêncio...
O silêncio no meu coração,
Os momentos, os meus momentos felizes...
Oiço o riso das crianças, cheiro a maresia que vem do mar, caminho descalça pela areia, continuo a sonhar.
Sonho, que o teu limite é o sonho e que o teu caminho, tem tantos obstáculos, uns já vencidos e outros, tantos outros, por vencer...
Dificil, é este nosso caminho mas, sei que embora seja feito devagar, muito devagar, sei que chegaremos ao destino deste nosso caminho que se faz caminhando...

Dina

Sou uma caminhante na estrada do aprendizado do amor. Às vezes, exausta, eu paro um pouquinho. Cuido das dores. Retomo o fôlego. Depois, levanto e seduzida, enternecida pelo chamado, cheia de fé, eu prossigo. Um passo e mais outro e mais outro e mais outro, incontáveis. Sei de cor que não é fácil, mas sei também que é maravilhoso olhar para o caminho percorrido e perceber o quanto a gente já avançou, no nosso ritmo, do nossos jeito, um passo de cada vez.

Ana Jácomo
E Deus continua susurrando: Não desista, o melhor ainda está por vir...
Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.

Dalai Lama

O amor é um caminho que clareia, progressivamente, à medida em que o percorremos, como se cada passo nosso fizesse descortinar um pouco mais a sua luz.
A jornada é feita de dádivas e alegrias, mas também de imprevistos, embaraços, inabilidades, lições de toda espécie.
De vez em quando, tropeçamos nos trechos mais acidentados. Depois, levantamos e prosseguimos: o chamado do amor é irrecusável para a alma. Desistir dele, para ela, é como desistir de respirar.


Ana Jácomo
Quando eu deixei de olhar tão ansiosamente para o que me faltava e passei a olhar com gentileza para o que eu tinha, descobri que, de verdade, há muito mais a agradecer do que a pedir. Tanto, que às vezes, quando lembro, eu me comovo. Pelo que há, mas também por conseguir ver.

Ana Jácomo
Nem sempre querer é poder, porque às vezes a gente quer, mas ainda não pode. Ainda não consegue realizar.
Não faz mal: a vontade que é legítima, alinhada com a alma, caminha conosco, paciente, fresca, bondosa, até que a gente possa. Às vezes, isso parece muito longe, mas é só o tempo do cultivo. As flores, como algumas vontades, também desabrocham somente quando conseguem


Ana Jácomo
Depois de cada momento de fraqueza, meu coração prepara, em silêncio, uma nova fornada de coragem.
Às vezes cansa, sim, mas combinamos não desistir da força que verdadeiramente nos move.

Ana Jácomo

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