Que ele saiba que, invariavelmente, pode contar comigo, nos tempos de celebração e na travessia das longas noites escuras.
É dele também a minha mão. É dele também o meu abraço. É dele também a minha escuta. É dele também o meu olhar amoroso. É dele também os meus melhores sorrisos.
Que se saiba amado muito além do de vez em quando, do por causa de, do se.
Que se sinta amado como é, não interessa com que cara a circunstância esteja. Que se sinta amado simplesmente porque é...

Ana Jácomo
Não me peça para esquecer as cores, meu coração sempre andará com as lembranças felizes.
Tendo na visão do futuro, as flores, o voo dos pássaros, um lindo céu azul com nuvens desenhando belas formas...
E talvez um mar para banhar e salgar as manhãs.
Não me peça para esquecer a imensa beleza da vida.
Apesar de tudo o que já passei, de tantos dissabores, há sempre algo que movimenta a nossa esperança...
Uma criança que nasce para ser amada e ser feliz, uma flor que desabrocha para ser contemplada por quem quiser, um menino que cresce e segue um caminho repleto de luz...

Carol Timm

Afonso

O caminho começou no dia 21 de Dezembro de 2006, o Afonso nasceu em morte aparente, ficando com lesões cerebrais, que lhe causaram paralisia cerebral. Atravessámos longos dias de hospital, dias em que a dor e a preocupação não nos abandonavam mas, desde cedo, percebemos que era um lutador e todos os dias lutamos, com ele, para chegar onde lhe for possível e quem sabe… afinal é um caminho que se faz caminhando...

sábado, 21 de junho de 2008

Tu meu bebé....

Meu querido e adorado filho
Mais um dia de luta, em que nos quiseram calar, em que nos tentaram ofender e fazer de nós, pessoas sensíveis com os sentimentos à flor da pele, reactivos.
O teu papá hoje esteve especialmente bem, quando respondeu, aquele senhor da direcção, aquele que se indignou, quando eu lhe disse, que achava que nós éramos demasiados sensíveis porque o problema da deficiência lhe passava ao lado. O senhor, ficou ofendido, disse que eu não conhecia, que não conhecia o seu intimo, quem era eu para o julgar? Então o papá, convidou-o a entrar numa nova experiência, a experimentar o outro lado e durante uma semana ser voluntário na Fundação Liga, uma vez que é director de uma instituição de solidariedade social, poderia assim conhecer por dentro um bocadinho melhor, uma realidade, que lhe poderia ser apresentada, como no teu caso meu bebé guerreiro. Queres saber a resposta "Isso só seria necessário se eu estivesse interessado em fazer um estudo sobre essa situação ", amanhã Afonso se calhar ainda vamos ouvir que estamos a trocar o contexto ou que não percebemos o que ele queria dizer.
Pois é meu bebé, palavras para quê, tu que hoje completas 18 meses de vida, mostras todos os dias, como és lutador, como tens força de vontade e ideias bem definidas para ti.
Tu meu bebé, sabes que precisas de aprender a viver e a conviver
Tu meu bebé sabes que para seres feliz, neste mundo, tens que batalhar muito
Tu meu bebé, és um ser humano espantoso e maravilhoso
E sabes Afonso tenho pena, piedade destas pessoas que se conhecem tão mal, a eles e aos outros...
Como é possível Afonso, que as pessoas não sejam humildes? Que não consigam pedir desculpa? Que não consigam assumir que por vezes, empregamos de forma infeliz, uma palavra, uma expressão?
Meu bebé, um dia ainda vais explicar a estas pessoas todas, o que é estar desse lado e através de coragem, muita coragem para enfrentar a vida conseguir superar e suplantar as dificuldades, as mais variadas dificuldades com que te irás deparar todos os dias.
Sabes, meu amor, que eu sou a tua maior defensora e que podes contar sempre comigo, tu já me conheces, abano mas não caio....
21/06/2008

Do Lobo

É evidente que precisamos de tolerância em nosso caminho. Não adianta ficar o tempo todo brigando com o mundo, só porque certas pessoas não respeitam a nossa busca ou o nosso sonho. As coisas que nos são queridas, assim permanecerão para sempre - e às vezes, escutar uma opinião exactamente contrária a nossa, termina por enriquecer e esclarecer um ponto que nos parecia obscuro.
Entretanto, não podemos confundir tolerância com passividade. Nos pontos mais delicados, devemos estar seguros de nossa decisão e da capacidade de seguir adiante. Uma pequena história da sabedoria árabe, anotada por Mansour Challita, nos recorda a melhor maneira de agir:
“Um pastor disse ao seu pai: ‘ensina-me a bondade’. Respondeu o pai: ‘Sê bom como o cordeiro, mas que a tua mansidão não faça o lobo tornar-se valente demais’”.

Postado por Paulo Coelho em 15 de Junho de 2008
http://www.paulocoelho.com.br

Finalista....

Terminou mais um ano escolar. O G. e a C. passaram de ano.
O G. mantêm-se no mesmo colégio e a C. vai mudar de ciclo - 5º Ano, vai ser um ano de grandes mudanças e novidades. Um ano de grandes e boas novidades.

No dia 19, foi a viagem de finalistas da C..
O dia começou bem cedo, cheio de ansiedade e excitação.
Visitaram as grutas de Mira D'Aire, Fátima, Mosteiro de Alcobaça a Fábrica de Vidro e cristais da Marinha Grande e Coimbra.
Correu tudo muito bem e não faltaram recordações para todos.

Agora, já só pensamos nas férias...

O lume

Vai caminhando desamarrado dos nós e laços que o mundo faz
Vai abraçando desenleado de outros abraços que a vida dá,
Vai-te encontrando na água e no lume na terra quente até perder o medo,
O medo levanta muros e ergue bandeiras para nos deter,
Não percas tempo,
O tempo corre, só quando dói é devagar
E dá-te ao vento como um veleiro solto no mais alto mar
Liberta o grito que trazes dentro
E a coragem e o amor
Mesmo que seja só um momento
Mesmo que traga alguma dor

Só isso faz brilhar o lume que hás-de levar até ao fim
e esse lume já ninguém pode nunca apagar, dentro de ti...



Mafalda Veiga

Pais especialissimos...

Hoje tivemos reunião, na que deveria ser, a futura creche do Afonsinho.
Já tínhamos decidido, há alguns tempo, que o Afonsinho não ia para a creche este ano. Esta decisão foi apoiada nas opiniões das terapeutas que acompanham o Afonsinho e que partilham da nossa opinião.
Decidimos apostar ainda mais forte na sua recuperação e fazer o maior numero de horas, possível, de tratamentos.
Como já tinha relatado anteriormente (Post "Estupidez") não esperava nada de útil desta reunião. A Srª Drª, começou por falar dos "medos", não pela instituição, mas pelo Afonso, já tinha muita experiência com pequeninos mas, nesta instituição estavam a começar, as vagas estavam a ser preenchidas devagarinho, blá, blá, blá, tentou mostrar serviço. Para poupar o desconforto que a situação estava a provocar, interrompi-a e disse-lhe que não era necessário terem medo porque o Afonso não ia para a creche este ano mas, que ficava em aberto para o próximo e que tinham que considerar que a lei OBRIGA não só a aceitarem as crianças que tem necessidades especiais, bem como e muito mais importante a CRIAREM CONDIÇÕES para elas. Não podia deixar passar, sem me referir, à forma como a Srª Drª falou comigo, por telefone, pois não era a maneira correcta de falar com os pais, que feria, magoava. Começou a guerra... não tinha sido nada assim, estava a mudar o contexto, não pedia desculpa porque não tinha errado, blá, blá, blá, nem vou perder mais tempo a escrever, deixo apenas uma pergunta, a que a Srª Drª não me soube responder: Como se altera o contexto, ou em que contexto pode ser utilizado a expressão NÃO SE ENTUSIASME ,MÃE e em que tenha outro significado se não este?
Entusiasmo - Forte interesse por determinada causa, coisa ou pessoa, que traduz em dedicação; vontade de acção; espírito de iniciativa; demonstração expansiva de alegria (Dicionário de Língua Portuguesa - Porto Editora)
Continuamos em frente, sem emprego, pois a proposta de emprego que me tinha sido feita era, exactamente, nesta Instituição, mas saímos mais fortes e mais convictos que esta guerra, apenas agora começou e hoje foi uma batalha fácil que estava ganha à partida. E repito, o que hoje disse a um dos três elementos da direcção que estavam presentes e o único que tentou, mas também não conseguiu, esgrimir argumentos comigo, nós LUTAMOS FEROZMENTE pelos nosso filhos e nem hoje nem nunca nos VAMOS CALAR e deixar de LUTAR pelos DIREITOS do Afonsinho.
Hoje acusaram-nos de ser pais sensíveis, muito sensíveis e especiais. Mas enganaram-se nós somos pais sensíveis, claro mas não somos pais especiais, SOMOS ESPECIALÍSSIMOS...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

A semana do Afonso

  • 2ª Feira - Hidroterapia
  • 3ª Feira - Terapia da Fala e Fisioterapia
  • 4ª Feira - Hipoterapia
  • 5ª Feira - Terapia da Fala e Fisioterapia
  • 6ª Feira - Terapia Ocupacional
  • Sábado - Acupunctura e Natação Adaptada
  • Domingo - Descanso semanal, muito miminho (ainda mais), preguiça e descontracção

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Medos...

Disseram-me: “Mãe, quando eu digo que ele está melhor, é porque está mesmo melhor”.
Não entendi esta afirmação mas, depois no balanço final de cada dia entre o deve e o haver pensei: Será que demonstro que não acredito no que dizem?
Durante estes meses, aconteceu exactamente o inverso, eu via evoluções, melhorias, pequenos ganhos, passinho a passinho mas sempre sustentado, sem nunca voltar atrás e recebia ecos contrários. Houve um médico, por volta dos 7 meses, que me disse, com um ar muito arrogante: “Mãe, isto não é uma questão de meses mas, sim de anos”, como se eu não estivesse à altura, como se eu fosse desistir (afinal eles já tinham desistido) de lutar pelo Afonso e com ele, como se fosse completamente estúpida e incompetente.
Até agora, não estava habituada a ouvir as palavras, “inteligente” “evolução” “melhorias”, “fantástico”, "isto é cognição", entre tantas outras, positivas e encorajadoras. Às vezes penso, vou perguntar o significado destas palavras, o que pensam realmente os terapeutas? Acreditam que o Afonso pode vencer as limitações? Mas confesso, tenho medo, muito medo da resposta, talvez por isso quando oiço estes incentivos sinto-me feliz mas, inconscientemente o medo sobrepõe-se a este sentimento. São tantos sentimentos, tantos e tão contraditórios que o meu coração deve ter a forma de um laço, com um grande nó, de tantas voltas que já deu e dá.
Eu acredito mas, da mesma forma que não penso nas limitações futuras, como se consegue pensar em limitações com um bebé tão lindo e amoroso como ele? Também tento não pensar no futuro sem limitações, porque o que mais desejo neste Mundo, é que ele consiga ultrapassar todas as etapas, mesmo que seja muito devagar mas, que chegue aonde queremos e precisamos de chegar…

Nós vamos lá chegar...

Há por aí
Tanta gente como eu
E como tu
Que sabe que não estamos sós
De uma esquina sai sempre uma outra rua
Quase sempre cheia de gente que sente
Como eu
Que vive muda nas palavras
Como tu
Que já não quer sentir mais nada
Se ficares algum tempo junto da janela
Hás-de ver que quem passa tem sempre um recado
Ouve-me bem
Que há momentos em que parece
Que tu vives num deserto
Olha-me bem
Dentro dos meus olhos podes encontrar
Quem sabe um coração que bate
Mais certo com o teu e com o de todo o mundo
Pois se há só uma batida para nos guiar
Nós vamos lá chegar
Há sempre mais do que uma réstia de luz
Para quem não passa da mesma verdade
Como tu
A porta está ali ao lado
Da vontade
De querer seguir em frente como nós
Estamos na mesma viagem sem regresso
Não saímos nas paragens
Nem sabemos os caminhos que nos esperam
Nem que pontes é que vão cobrar portagem
Nós vamos lá chegar...
Canção de Luís Represas

Quem sou eu?

Já várias pessoas leram o blogue e todas me disseram o mesmo: "chorei" ,"fiquei emocionada".
Hoje, decidi virar as costas a tudo e ler o blogue desde o seu início e também eu chorei...
Realmente, a história, a curta história de vida do Afonsinho, tem sido sofrida, dura, violentamente dura...
Eu sei que há dias, como o de hoje, em que me sinto melancólica, pensativa, metida comigo mesma.
Hoje, houve uma conversa que me fez pensar, a possibilidade de ser 2 pessoas, uma nas sessões de terapia, no dia a dia e outra neste blogue. Eu sei que sou as duas, até sou mais que duas. A triste e melancólica, a que tem medo, a que não quer ouvir, a alegre, bem humorada e divertida, a de mau feitio, arrogante e exigente, a lutadora, de espirito forte, a guerreira incansável...
Eu sou todas e, às vezes, não sou nenhuma...
Eu acho que na maioria dos dias, a partir do meio de Março, consegui encontrar-me. Acordo com facilidade e sinto-me preparada para enfrentar um novo dia. Encaro tudo com normalidade, as manhãs, umas com muitas actividades e trabalho, outras cheias de mimo e preguiça, o ter de ir todos os dias para os tratamentos com o Afonsinho. A verdade é que me sinto bem na Liga, sinto-me acompanhada e sinto que o Afonso é, para além, de muito bem acompanhado, muito mimado e amado, há verdadeiro interesse na sua recuperação, preocupação com o seu e o meu bem estar, palavras de apoio e incentivo...
Dizem-me que tenho que ir trabalhar, por mim, que preciso de sair, de largar um bocadinho o Afonsinho mas, eu não sinto falta de nada disso. Gosto dos meus dias e sinto-me feliz, atrevo-me a dizer que se não fosse pela questão monetária, afinal já há quase dois anos que só entra um ordenado em casa e as despesas são cada vez mais, por mim não voltava a trabalhar. O que eu realmente gostava era ter uma situação financeira que me permitisse acompanhar, de forma efectiva, os meus 3 filhos. Eu sei que pode parecer estranho, afinal onde está a pessoa que trabalhava 12 horas por dia? E à noite? E ao fim-de-semana, se fosse necessário? Esta "nova" pessoa, é aquilo que sempre foi mas, com prioridades diferentes, com uma grande prioridade na vida, OS FILHOS, e especialmente empenhada na recuperação do Afonsinho.
Afinal, acho que não mudei assim tanto. Continuo a colocar os meus filhos acima de tudo, aprendi a viver um dia de cada vez, a aceitar que por vezes me sinto deprimida e outras alegres, que grito, que choro, que sorrio e riu, que a vida é assim, feita de altos e baixos.
VIVO INTENSAMENTE e SOFRO INTENSAMENTE como sempre vivi e sofri...

Cada lugar teu

Sei de cor cada lugar teu
Atado em mim, a cada lugar meu
Tento entender o rumo que a vida nos faz tomar
Tento esquecer a mágoa guardar só o que é bom de guardar
Pensa em mim protege o que eu te dou
Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
Sem ter defesas que me façam falhar
Nesse lugar mais dentro
Onde só chega quem não tem medo de naufragar
Fica em mim que hoje o tempo dói
Como se arrancassem tudo o que já foi
E até o que virá
E até o que eu sonhei
Diz-me que vais guardar
E abraçar tudo o que eu te dei
Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
E o mundo nos leve para longe de nós
E que um dia o tempo pareça perdido
E tudo se desfaça num gesto só
Eu vou guardar cada lugar teu
Ancorado em cada lugar meu
E hoje apenas isso me faz acreditar
Que eu vou chegar contigo
Onde só chega quem não tem medo de naufragar
Mafalda Veiga

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Maravilha!!!

A nossa manhã já tem novas actividades para fazer. A palavra de ordem do dia é trabalho, trabalho e mais trabalho.
Depois de brincar no tapete, na piscina de bolas com a sua caixa de grão e massa, com o Sebastião (o livro que canta história) ao som do CD caixinha de sonhos, chegou a hora de trabalhar. Primeiro colocar as talas nas pernas, de seguida trabalhar a aberturas das pernas em extensão na posição de sentado, depois plano inclinado, na vertical, para trabalhar o equilíbrio, a postura e fazer carga nas pernas. O Afonsinho portou-se como um herói e os exercícios demoraram cerca de uma hora, depois o relaxamento, massagem com o aparelho, claro que na cara é menos agradável e massagem com óleo. Hum, bem melhor, primeiro nas pernas, a seguir nas costas, braços e mãos, depois rapidamente na barriga para voltar às costas e adormecer...
A seguir ao almoço, mais uma sessão de hipoterapia, hoje tivemos uma grande novidade, além de colaboração total, o Afonsinho fez festinhas no cavalo e deu gritinhos de prazer, sorriu e "conversou" com a fisioterapeuta. A grande diferença é que estas sessões são feita SÓ com a fisioterapeuta, eu não estou presente.
Apesar de cansado e com sono vinha bem disposto, com uma boa postura e as mãos bem abertas.
Só me ocorre uma palavra MARAVILHA!!!

terça-feira, 17 de junho de 2008

O relatório

Hoje fui fazer um exame, uma mamografia e ecografia mamária (está tudo bem) e a C. teve consulta de rotina e está óptima. Com tudo isto, chegámos à Liga em cima da hora e sem almoçar. Pedimos à terapeuta se era possível ficar com o Afonsinho enquanto nós íamos almoçar.
O Afonsinho fez uma parte da sessão de terapia da fala, pela primeira vez, sozinho com a terapeuta, refilou, chorou, fez beicinho mas, também ficou um bocadinho muito, muito pequenino mais autónomo, tenho que começar a cortar o cordão umbilical. Hoje levei papa de fruta para o lanche. A terapeuta gostou de ver o Afonsinho a comer, a postura continua má (faz hiper-extensão) e come no meu colo mas, segundo a terapeuta a língua está a funcionar como deve de ser, os movimentos são mais correctos e não parece o menino que ela viu comer há cerca de 2 meses atrás. Foi difícil para mim mas, até correu bem afinal a assistência era "poderosa" mas amiga, a fisioterapeuta, a assistente social, a auxiliar e a terapeuta da fala.
Hoje, na fisioterapia entregaram-me o relatório, que foi elaborado pelos três terapeutas e a assistente social, para referenciarem o Afonso junto da equipa de intervenção precoce da Amadora (educadoras de ensino especial). Já na 5ª feira a fisioterapeuta me tinha falado no relatório, na altura não lhe disse nada mas, a minha cara deve ter demonstrado o pavor que tenho destas situações. Assim, preparei-me para ler, o que já sabia à partida que não queria ler mas, tive uma grande surpresa não pelo que estava escrito, as palavras estavam lá, "grave" e "comprometido" mas, pelo cuidado, imediato, com que a fisioterapeuta me abordou, fazendo questão de me explicar, mesmo antes de eu ler, que as ditas palavras eram necessárias para pedir o apoio para o Afonso e que sem elas era bastante difícil conseguir mas, que não era a opinião dos terapeutas e que o Afonsinho tem vindo a fazer evoluções espectaculares. Disse-lhe que não era necessário explicar-se e que não era a primeira vez que a situação do Afonso não era descrita no papel como se passa no dia a dia mas, também é difícil escrever um relatório diário com cada pequena, pequenina evolução que ele faz.
Acabámos por ficar na conversa, por mais 45 minutos, parecíamos amigas de longa data, eu e a "assistência", falámos de coisas banais, coisas de mulheres e afinal o dia acabou por correr bem melhor do que estava à espera, talvez também eu, devagar, devagarinho consiga ultrapassar os meus medos, as minhas dúvidas, as minhas mágoas, talvez também eu consiga evoluir de forma espectacular...

Aprender a ser feliz

Andar, nesta estrada,
Por caminhos incertos,
Tão longe e tão perto do que eu quero ser,
Cantar, uma balada,
De sonhos despertos
De braços abertos para te conhecer
Mas na verdade estou aqui para te sentir,
Para te ver a sorrir;
Estou aprender a ser feliz,
Aquilo que eu vou ser ninguém me diz
A guitarra que só toca por amor,
Não acalma o desejo, nem a dor
Bem vês, companheira,
Eu parto sozinho, percorro o destino às vezes sem querer
Talvez, também queira,
Cantar-te baixinho
Dar-te o meu carinho e tudo esquecer
Mas na verdade estou aqui para te sentir,
Para te ver a sorrir
Estou a aprender a ser feliz


Canção dos Polo Norte

Querido Afonsinho


segunda-feira, 16 de junho de 2008

Mais um passinho...

Hoje tivemos mais uma sessão de hidroterapia.
O prazer e a felicidade começaram no duche com os já habituais (já é a segunda vez que o faz) gritinhos de prazer e conversa (emissão de sons). O Afonsinho reagiu muito bem, conseguindo fazer uma piscina inteira na posição lateral esquerda. Curiosamente, hoje era, ao contrário do que tem sido normal, sobre o lado direito que estava a reagir pior. Fez sequência motora em posição ventral e dorsal, esta com grande luta mas, hoje venci eu, acho que pela primeira vez.
Almoçou bem, apesar do sono, e emitiu os seus sons habituais, que nós repetimos como "é bom" e "não quero". Não sei se é o que ele quer dizer mas, a verdade é que estes sons só são emitidos durante a refeição. Agora que aprendeu a fechar a boca, delicia-se sorrindo, com aquele seu ar de maroto, quando lhe toco com a colher nos dentes e ele consegue manter a boca fechada.
Ainda o consigo enganar, mais uma vez, quando digo que é a última e ele olha para mim e abre uma vez mais a boca.
À tarde mais um passinho, começámos a fazer o plano inclinado. O plano inclinado serve para fazer carga (força) sobre as pernas e ajuda no controlo da cabeça. Utiliza umas talas nas pernas para ajudar a manter as pernas, em extensão, numa postura correcta.
Hoje fizemos 20 minutos em duas posições: mais horizontal, para a cabeça e mais vertical para as pernas, a reacção foi razoável, pois apesar de ter refilado, não fez hiper-extensão e manteve sempre uma boa postura.
Quando o pai e os irmãos chegaram, fez uma enorme festa, e brindou-os com a sua conversa e sorrisos.

De mão em mão

Se te sentires perdido numa noite assim
Em que as estrelas se misturam pelo chão
Com o vento e a poeira
As lembranças e os cansaços
Que te fazem procurar o teu lugar
Se te sentires perdido numa noite assim
À deriva pelo meio da multidão
Sem saber qual é o caminho certo
E o momento de parar
E ouvir a voz do teu coração
Pode ser que encontres no olhar de alguém
O teu mundo perdido
A cor do teu céu
Uma chama que a lua faz dançar no escuro
Um desejo escondido
E o que ficou nos teus sentidos de alguma canção
Na rua há um silêncio colado à pele
A noite acende o mundo no teu peito
E vais talvez mais dentro
E mais longe do que nunca
Para tentar tocar o fundo com as mãos
Pode ser que encontres no olhar de alguém
O teu mundo perdido
A cor do teu céu
Uma chama que a lua faz dançar no escuro
Um desejo escondido
E o que ficou nos teus sentidos de alguma canção
Enquanto te confundes
Nos gestos loucos da multidão
Enquanto sopra um fogo distante
Que cresce de mão em mão
Mafalda Veiga

domingo, 15 de junho de 2008

Normal...

Perguntam-me:
Como é que consegues encarar, tudo assim, de forma tão normal?
Eu respondo:
Primeiro, pensei que não me estava a acontecer, acreditei que tudo ia ficar bem.
Depois, o FUTURO, a minha grande preocupação eram os meus FILHOS, o que tinha eu criado para eles? Como iria ser a vida da C. e do G. com um irmão doente, porque paralisia cerebral para mim era uma doença, era ficar numa cama, totalmente incapacitado, sem se mexer, sem comer, com cuidados permanentes.
A seguir, uma enorme pena de mim mesma mas, um dia percebi que a minha vida não ia mudar nada… ia continuar autónoma, a falar, a andar, a comer, a minha vida, o meu eu, continuavam iguais, não precisava de ter pena de mim, nem de ninguém porque é possível lutar!
LUTAR contra a adversidade;
LUTAR contra as limitações e as dificuldades;
LUTAR contra a indiferença e fazer diferença;
LUTAR contra os rótulos;

E acreditar!

ACREDITAR que se pode vencer as limitações e minorá-las;
ACREDITAR que se pode ser autónomo;
ACREDITAR que se vive um dia de cada vez;
ACREDITAR que se pode ser feliz, MUITO FELIZ;
ACREDITAR, que se pode encher de cor um retrato a preto e branco.
E não há, de facto, nada mais normal… do que sorrir, do que sonhar, do que viver momentos felizes, do que sentir um amor infinito, do que amar assim…

Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.

Fernando Pessoa

Excepção...

Neste fim de semana, encontrei alguns conhecidos, que já sabiam da situação do Afonso mas, que até hoje nunca se tinham aproximado.
Cada vez que nos cruzámos, o tema de conversa era o Afonso e o filho de uma amiga, que tem agora 16 anos e que vive acamado com grandes dificuldades devido à paralisia cerebral, que nunca tinha sido estimulado ou feito fisioterapia, que nunca tinha frequentado um jardim de infância ou uma escola mas, a conversa foi para a EXCEPÇÃO, que tínhamos que acreditar que era possível, que havia excepções, que o Afonso era muito estimulado, que era lindo, parecia um anjo.
Achei curiosa esta conversa, com pessoas que me dizem tão pouco, que não deixaram de falar na desgraça alheia (como bons portugueses) mas, que se preocuparam em me animar, que me incentivaram a continuar, a acreditar na excepção, porque a verdade é que existem casos excepcionais.
Ao longo destes meses, fui conhecendo verdadeiras histórias de amor e de dedicação, de coragem e de entrega, de perseverança e paciência e uma enorme, enormíssima capacidade de lutar. Eu também me incluo nestas pessoas e acredito e vou acreditar sempre que é possível vencer as limitações, que é possível minimizá-las, que é possível ser autónomo, que é possível sorrir, que é possível ser feliz...

Acampar...

Decidimos ir acampar neste fim de semana, antes do Afonsinho nascer custumávamos ir, um ou dois fins-de-semana por ano, escolhemos um parque de campismo perto de Lisboa para não andarmos muitas horas de carro.
O Afonso reagiu muito bem a tudo, brincou e comeu ao ar livre, dormiu numa tenda de campismo, tomou duche nos balneários. O meu irmão comprou uma mini cadeira, que ofereceu ao Afonsinho que, não sei explicar porquê, gostou e lá ficou alguns momentos sentado, bastante direitinho apesar de estar sem o colete.
O G. e a C. estavam super contentes pois adoram acampar e estar ao ar livre, foi um fim de semana óptimo, passado também com a companhia do meu irmão, cunhada e sobrinho.
O meu sobrinho, que nunca tinha ido acampar estava, super feliz. É impressionante o que ele e a C. brincaram, pilhas e pilhas de energia, adoraram passear à noite, com as lanternas nas mãos.
Na praia, mais um passinho, como era uma lagoa com água morninha e muito calminha, decidimos pôr o Afonsinho a "nadar" de barriga para baixo, adorou, deu gritinhos de prazer, emitiu sons e o mais importante moveu as pernas, as duas de cada vez e também alternadamente como se estivesse a nadar e tentou, conseguindo algumas vezes, chapinhar com os braços. Emocionante, sem mais palavras para descrever a felicidade deste momento...
o G. a C. e o M. deliciavam-se, a tentar apanhar caranguejos e conseguiram apanhar alguns.


Durante três dias tivemos o som do mar, o bater do vento nos pinheiros, uma maravilhosa vista sobre o mar e um fantástico pôr-do-sol como companhia


Dias bons, com momentos felizes, continuamos a sorrir...

O que é paralisia cerebral?

"A criança com Paralisia Cerebral tem uma perturbação do controlo da postura e movimento, como consequência de uma lesão cerebral que atinge o cérebro em período de desenvolvimento.
(...)A criança com Paralisia Cerebral pode ter inteligência normal ou até acima do normal."

Retirado de "A criança com paralisia cerebral" - Guia para os pais e profissionais da saúde e educação APPC
Hoje caminho, o céu está azul, o sol brilha esplendoroso, oiço o chilrear dos passarinhos e o silêncio...
O silêncio no meu coração,
Os momentos, os meus momentos felizes...
Oiço o riso das crianças, cheiro a maresia que vem do mar, caminho descalça pela areia, continuo a sonhar.
Sonho, que o teu limite é o sonho e que o teu caminho, tem tantos obstáculos, uns já vencidos e outros, tantos outros, por vencer...
Dificil, é este nosso caminho mas, sei que embora seja feito devagar, muito devagar, sei que chegaremos ao destino deste nosso caminho que se faz caminhando...

Dina

Sou uma caminhante na estrada do aprendizado do amor. Às vezes, exausta, eu paro um pouquinho. Cuido das dores. Retomo o fôlego. Depois, levanto e seduzida, enternecida pelo chamado, cheia de fé, eu prossigo. Um passo e mais outro e mais outro e mais outro, incontáveis. Sei de cor que não é fácil, mas sei também que é maravilhoso olhar para o caminho percorrido e perceber o quanto a gente já avançou, no nosso ritmo, do nossos jeito, um passo de cada vez.

Ana Jácomo
E Deus continua susurrando: Não desista, o melhor ainda está por vir...
Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.

Dalai Lama

O amor é um caminho que clareia, progressivamente, à medida em que o percorremos, como se cada passo nosso fizesse descortinar um pouco mais a sua luz.
A jornada é feita de dádivas e alegrias, mas também de imprevistos, embaraços, inabilidades, lições de toda espécie.
De vez em quando, tropeçamos nos trechos mais acidentados. Depois, levantamos e prosseguimos: o chamado do amor é irrecusável para a alma. Desistir dele, para ela, é como desistir de respirar.


Ana Jácomo
Quando eu deixei de olhar tão ansiosamente para o que me faltava e passei a olhar com gentileza para o que eu tinha, descobri que, de verdade, há muito mais a agradecer do que a pedir. Tanto, que às vezes, quando lembro, eu me comovo. Pelo que há, mas também por conseguir ver.

Ana Jácomo
Nem sempre querer é poder, porque às vezes a gente quer, mas ainda não pode. Ainda não consegue realizar.
Não faz mal: a vontade que é legítima, alinhada com a alma, caminha conosco, paciente, fresca, bondosa, até que a gente possa. Às vezes, isso parece muito longe, mas é só o tempo do cultivo. As flores, como algumas vontades, também desabrocham somente quando conseguem


Ana Jácomo
Depois de cada momento de fraqueza, meu coração prepara, em silêncio, uma nova fornada de coragem.
Às vezes cansa, sim, mas combinamos não desistir da força que verdadeiramente nos move.

Ana Jácomo

Todos os direitos reservados